Paulo de Tarso Lara Pires, engenheiro florestal, advogado, é mestre em Economia e Política Florestal pela UFPR e doutor em Ciências Florestais (UFPR). Pós-doutorado em Direito Ambiental e Desastres Naturais na Universidade de Berkeley – Califórnia.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Jardim Botânico fará lista vermelha de plantas do Brasil

Em maio será apresentada à União Internacional para a Conservação da Natureza quais são as árvores do país em risco de extinção


A copa da castanheira na Amazônia, uma das árvores em risco listadas pelo Ibama André Coelho/13-4-2010



O Centro Nacional de Conservação da Flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (CNCFlora/JBRJ) vai avaliar cinco mil espécies da flora brasileiras ameaçadas de extinção até maio deste ano. O trabalho vai determinar quais delas entrarão nas chamada lista vermelha (que define as mais vulneráveis) da União Internacional para Conservação da Natureza (International Union for Conservation of Nature, IUCN).
A organização reconheceu, no início do ano, o CNCFlora como uma Autoridade em Listas Vermelhas de Plantas Brasileiras. Dois especialistas do Brasil, Gustavo Martinelli e Miguel de Moraes, estão em Abu Dhabi, onde foram oficialmente apresentados aos demais integrantes da IUCN no segundo Encontro de Grupos de Autoridades em Listas Vermelhas.
- Não só poderemos produzir uma lista embasada cientificamente, como o país será capaz de subsidiar tomadores de decisão e nortear esforços de conservação nacionais para as espécies ameaçadas da flora – disse Martinelli.
Para realizar o trabalho no Brasil, será mobilizada uma equipe de 14 avaliadores de risco de extinção de plantas. As listas de espécies vulneráveis será revisitada pelos especialistas. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, mantém na internet uma descrição de plantas brasileiras em risco de extinção. O Ibama também publicou sua Lista Oficial de Flora Ameaçada de Extinção.
De acordo com Miguel de Moraes, é necessário saber o real estado de conservação da flora do Brasil. Ele defende a avaliação de toda as espécies do país reconhecidas pela ciência, que hoje somam 42.859.
Cláudio Motta para O Globo

Artigo "Desastres Naturais e Desigualdade" publicado em vários veículos

O artigo intitulado "Desastres Naturais e Desigualdade" publicado originalmente no jornal paranaense Gazeta do Povo ( 16/02/12) e aqui neste blog, acabou sendo divulgado em alguns outros veículos nacionais, a maior parte deles especializados em Meio Ambiente.  A seguir, segue uma lista dos links com estas estas publicações.

Essa é uma forma de agradecer pela divulgação e principalmente, prestar uma homenagem a todos aqueles que se preocupam com os rumos que o nosso país toma em direção à degradação ambiental, o que acaba provocando tragédias humanas a curto, médio e longo prazo como as enchentes, deslizamentos, mortes e abandono. Tudo nessa ordem. Ou quase.



EcoDebate - Cidadania & Meio Ambiente


Instituto Humanitas Unisinos 


TV Meio Ambiente


AMDA - Associação Mineira de Defesa do Ambiente


Amai-vos


Blog do Valdir Izidoro Silveira


Blog do Luiz Rodrigues


Blog Caatinga Cactus

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cientistas alertam para as consequências do novo Código Florestal


A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC)  divulgaram ontem (27/02/12) uma carta na qual alertam para algumas das consequências que poderão resultar da reforma no Código Florestal (CF), na versão aprovada pelo Senado e que deverá voltar à Câmara dos Deputados no início de março. Embora reconheçam avanços no texto aprovado pelo Senado, as instituições apontam graves problemas na proposta. Leia o texto na íntegra (abaixo):




CARTA ABERTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC) E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS (ABC)

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) vêm alertar para algumas das consequências que poderão resultar do projeto de lei que altera o Código Florestal (CF), na versão que será proximamente votada na Câmara dos Deputados.

A SBPC e a ABC reconhecem os avanços contidos no texto do CF na versão apresentada pelo Senado Federal, em particular o estabelecimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e dos mecanismos de apoio e incentivo à conservação e recuperação do meio ambiente, o condicionamento do crédito agrícola à regularização ambiental, o aumento da proteção ambiental em área urbana, a inclusão dos mangues entre as áreas de preservação permanente, a obrigação de projetos de lei específicos para cada bioma em um prazo de três anos, as novas especificações e instrumentos legais que regulam o uso de fogo e o controle de incêndios e a distinção entre disposições permanentes e transitórias no CF.

Permanecem, no entanto, graves problemas. Para que não se alegue o aval da ciência ao texto ora em fase final de deliberação no legislativo, as associações mais representativas da comunidade científica – a SBPC e a ABC – vêm novamente se manifestar e reiterar suas posições, cujas justificativas científicas já foram apresentadas ao longo de 2011, em um livro e dois documentos, acessíveis no site da SBPC (www.codigoflorestal.sbpcnet.org.br).

Todas as áreas de preservação permanente (APP) nas margens de cursos d’água e nascentes devem ser preservadas e, quando degradadas, devem ter sua vegetação integralmente restaurada. A área das APPs, que deve ser obrigatoriamente recuperada, foi reduzida em 50% no texto atual.

As APPs de margens de cursos d’água devem continuar a ser demarcadas, como foram até hoje, a partir do nível mais alto da cheia do rio. A substituição do leito maior do rio pelo leito regular para a definição das APPs torna vulneráveis amplas áreas úmidas em todo o país, particularmente, na Amazônia e no Pantanal. Essas áreas são importantes provedoras de serviços ecossistêmicos, principalmente, a proteção de nossos recursos hídricos e por isso, objeto de tratados internacionais de que o Brasil é signatário, como a Convenção de Ramsar (Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional).

Reafirmamos que os usos agrícolas praticados pelas comunidades tradicionais e por ribeirinhos devem ter tratamento diferenciado. Em particular, as áreas de pousio devem continuar , sendo reconhecidas apenas à pequena propriedade ou posse rural familiar ou de população tradicional, como foram até o presente.

As comunidades biológicas, as estruturas e as funções ecossistêmicas das APPs e das reservas legais são distintas. Não faz sentido incluir APPs no cômputo das Reservas Legais (RLs) como proposto no artigo 16 do Projeto de Lei .

A SBPC e a ABC sempre defenderam que a eventual compensação de déficit de RL fosse feita nas áreas mais próximas possíveis da propriedade, dentro do mesmo ecossistema, de preferência na mesma microbacia ou bacia hidrográfica. No entanto o projeto em tramitação torna mais ampla a possibilidade de compensação de RL no âmbito do mesmo bioma, o que não assegura a equivalência ecológica de composição, de estrutura e de função. Mantido esse dispositivo, sua regulamentação deveria exigir tal equivalência e estipular uma distância máxima da área a ser compensada, para que se mantenham os serviços ecossistêmicos regionais.

A principal motivação que justifica a RL é o uso sustentável dos recursos naturais nas áreas de menor aptidão agrícola, o que possibilita conservação da biodiversidade nativa com aproveitamento econômico, além da diversificação da produção. Por isso, na recuperação das RLs degradadas, o possível uso temporário inicial de espécies exóticas não pode se transformar em uso definitivo, como fica assegurado pelo texto atual.

A figura de áreas rurais consolidadas em APPs até a data de 22 de Julho de 2008, e a possibilidade dada no projeto de serem mantidas e regularizadas não se justificam. Desde pelo menos 2001, o desmate dessas áreas para uso alternativo do solo já estava explicitamente proibido. Essas áreas devem ser integralmente restauradas com vegetação nativa para que possam fornecer seus serviços ambientais.

Um dos pré-requisitos para o sucesso da restauração da mata ciliar é o isolamento do fator de degradação. Desse modo, recuperar a faixa marginal concomitantemente com a utilização do espaço pelo gado, como fica permitido pelo artigo 62, parágrafo 4º, 5º, 7º e 8º impede os processos de recrutamento de mudas e regeneração da vegetação.

Finalmente, como em várias outras leis, as múltiplas exceções podem desvirtuar a regra. Alguns exemplos são particularmente notáveis. Embora os mangues estejam protegidos no texto do Senado, a permissão de exploração de 35% dos mangues fora da Amazônia (além dos que já estariam em áreas ditas “consolidadas”) e 10% na Amazônia são preocupantes pois os mangues, entre outros serviços importantíssimos, são essenciais na reprodução de várias espécies de peixes de uso comercial.

Outra exceção à proteção dos mangues se refere aqueles cuja função ecológica estiver comprometida. Nesse caso (art.8º, parágrafo 2º), autorizam-se obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda. Se a função ecológica do manguezal estiver comprometida, ela deve ser recuperada, uma vez que grande parte dos manguezais contaminados tem elevados índices de metais pesados e petróleo. Manter populações de baixa renda nesses locais seria imoral.

Outras exceções dizem respeito à obrigação de restaurar. O tratamento diferenciado de poder restaurar extensão menor de APPs deveria ser restrito à agricultura familiar. Em vista disto deveriam ser suprimidos os parágrafos 4º, 7º e 8º do artigo 62 do texto aprovado no Senado Federal.

Dadas as regras de tramitação de Projetos de Lei no Congresso Nacional, a maioria dos problemas apontados não vai poder mais ser corrigida no âmbito do Legislativo. São exceção uns poucos dispositivos para os quais uma supressão ainda é viável. Entre eles estão o artigo 16, o parágrafo 7º do artigo 13, os três parágrafos 4º, 7º e 8º do artigo 62 mencionados acima, e o parágrafo 3º do art.68 que diz respeito às espécies exóticas na recuperação das reservas legais. Maiores detalhes se encontram na Tabela anexada a este documento.

A reforma do Código Florestal Brasileiro, tal como vem sendo processada no Congresso, sob a influência de grupos de pressão setoriais, representa a desregulação do setor do agronegócio com sérios riscos para o meio ambiente e para a própria produção agrícola. A proteção de áreas naturais está sendo consideravelmente diminuída e perde-se assim a oportunidade de produzir alimentos com mais eficiência e com sustentabilidade ambiental, o que deveria ser o grande diferencial da agricultura brasileira.
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Além da carta, a SBPC e a ABC divulgaram uma tabela comparativa com as principais propostas de alteração: como está no Código Florestal atual e como ficará. (Fonte/ Instituto Socioambietal)

Paraná vai começar inventário das florestas



Foto: Cleverson Bege

O Paraná vai elaborar, em conjunto com o Serviço Florestal Brasileiro, o Inventário Florestal Estadual, como parte dos estudos que compõem o Programa Bioclima Paraná. O levantamento permitirá um diagnóstico qualitativo das florestas, biomassa e estoques de carbono. Os dados também serão muito importantes para a revisão da lista de espécies da flora ameaçadas de extinção, pois a última foi realizada em 1995.

As primeiras reuniões na sede da Secretaria do Meio Ambiente com técnicos do Ministério do Meio Ambiente ocorreram na semana passada. A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento será parceira nos trabalhos, principalmente no levantamento de espécies exóticas, como pinus e eucalipto. A primeira medida será o levantamento de florestas de araucárias.

Nesta primeira fase dos trabalhos estão sendo identificadas as entidades parceiras, dentre universidades e jardins botânicos, e elaborados os termos de referência para licitação de empresa que fará os levantamentos de campo, em 550 pontos no Estado.

“O Programa Bioclima Paraná prevê estudos periódicos, como o inventário de florestas, para o monitoramento dos recursos florestais do Estado, com o principal propósito de subsidiar a definição de políticas florestais”, explica Mariese Muchailh, coordenadora de Biodiversidade e Florestas da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

Fonte: Agência Estadual de Notícias

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um ano depois, destruição

Famílias em abrigos improvisados, entulhos espalhados e pontes quebradas fazem parecer que desastre no Litoral do Paraná ocorreu há poucos dias


Terreno devastado prejudica a agricultura


A julgar pelo cenário de devastação, parece que foi ontem. Mas a verdade é que está prestes a fazer um ano que chuvas torrenciais provocaram desastres no Litoral paranaense. Famílias em abrigos improvisados, entulhos espalhados por vários quilômetros e pontes quebradas continuam fazendo parte da paisagem. A falta de preparo para lidar com catástrofes e a burocracia fizeram com que apenas algumas poucas ações de reconstrução tenham sido realizadas até agora.

O plano de trabalho para definir quais obras deveriam ser executadas foi finalizado somente em novembro – oito meses após a tragédia. Antes da conclusão do projeto, uma sequência de reuniões, análises e alterações aconteceu, atrasando o início das obras. O governo estadual reconhece que por muito tempo foram executadas apenas “ações de resposta”, com soluções que visam a evitar mais danos, atender a casos de riscos de morte ou que ofereçam o mínimo de condições de subsistência às famílias que ficaram sem casa. Assim, basicamente, só obras emergenciais foram realizadas nos primeiros meses.

O vai-e-vem até a definição do plano de trabalho impediu que fosse aproveitada uma brecha na lei que existe justamente para agilizar obras em áreas atingidas. Em casos de desastres, as autoridades podem decretar situação de emergência ou estado de calamidade pública e, assim, ficam liberadas de alguns entraves burocráticos.

O prazo especial desses decretos só vale, porém, para aquisições feitas nos primeiros 180 dias após a tragédia. E, no caso paranaense, passaram-se seis meses sem que o grosso das compras – que envolve a reconstrução de pontes de estradas municipais e a construção de casas para os desabrigados – fosse realizado.

Um exemplo é a retirada de material lenhoso das áreas devastadas: a seleção da empresa que faria o serviço foi iniciada dentro do prazo que permitia a licitação simplificada, mas, como demorou para ser concluída, foi necessário recomeçar o processo dentro do modelo convencional.

Uma exceção foi a reconstrução da ponte na BR-277. Apesar de ser uma obra de engenharia mais complexa que as de estruturas de ligação das rodovias estaduais e das estradas municipais, a ponte foi concluída em apenas cinco meses. Dois fatores pesaram nesta agilidade: o fato de a obra ser de responsabilidade da iniciativa privada (concessionária da rodovia) e a falta que a ponte fazia para milhares de pessoas que precisam fazer o trajeto até o Litoral.

Algumas outras obras de reconstrução já estão prontas também – como as pontes das rodovias estaduais. Ações preventivas e educativas da Defesa Civil, além de um estudo sobre áreas de risco no Litoral, foram realizadas. O curso dos rios que cortam o distrito rural de Floresta – que fica parte em Paranaguá e parte em Morretes – também está sendo refeito.

Pedras e toras gigantes que rolaram dos morros, porém, ainda estão por lá. A reconstrução de 22 pontes em estradas municipais ainda não tem data para começar. Algumas licitações estão em curso e outras nem começaram. O governo federal liberou R$ 15 milhões. O recurso chegou no fim de maio. Depois de comprovada a aplicação correta do dinheiro, mais R$ 10 milhões devem ser depositados.

Faltou aprender com a lição, diz especialista

As lições que poderiam ser assimiladas com as enxurradas de março não foram totalmente aprendidas, na opinião do coordenador do Centro de Apoio Científico a Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Renato Lima. “Para estudar o caso, era preciso agir no começo. É como tentar saber um ano depois como uma doença se manifestou. Se não acompanha os sintomas, mede a febre de tempo em tempo, muito se perde”, exemplifica.

Para o professor, o Paraná desperdiçou uma grande chance de se preparar melhor para outras eventuais tragédias. “O desastre no litoral demonstrou as nossas fragilidades e a necessidade de ações sérias na área de prevenção e preparação. Teve um prefeito que disse que não sabia que aquele desastre podia acontecer. Penso que, para algumas autoridades, ainda não ficou claro que o que ocorreu no Litoral pode acontecer em vários lugares”, comenta.

Mas Lima vê pontos positivos. Ele ressalta que foram feitos alguns mapeamentos sobre áreas de risco. Além disso, o desastre pode ter servido para alertar que o investimento público na preparação e prevenção em desastres é necessário. Um termo de cooperação entre o governo estadual e o Cenacid foi assinado no ano passado, permitindo que técnicos universitários colaborem no enfrentamento de situações de emergência.

O capitão Romero Nunes da Silva Filho, chefe do setor operacional da Defesa Civil do Paraná, destaca que já foram feitos levantamentos para indicar áreas preferenciais de atuação, como ruas que mais alagam e morros mais suscetíveis a desmoronamento no Litoral. Foram feitos, ainda, exercícios de simulação de evacuação com duas comunidades. Além disso, o número de estações pluviométricas – que monitoram o volume das chuvas – aumentou de 14 para 20.

Para Silva Filho, um dos pontos de destaque na ação é a elaboração de um protocolo de atendimento. Agora, em caso de tragédia em qualquer parte do Paraná, há uma lista prévia de ações com divisão de tarefas entre vários órgãos governamentais.



Atrasos
Governo culpa a burocracia

“Foi feito o que dava para fazer”. Assim definiu o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, o encarregado de gerenciar as ações no Litoral paranaense. Ele admite que houve atrasos, mas coloca a culpa na burocracia. O fato de técnicos e gestores terem acabado de assumir funções, já que a troca do comando do governo estadual havia acontecido 70 dias antes das enxurradas, também teria provocado mais lentidão nas ações, segundo ele. Richa Filho também afirma que houve “conflito de demandas” com as prefeituras. Havia muita discussão sobre como aplicar os recursos do tesouro estadual e do governo federal. Alguns municípios teriam pedido para administrar o dinheiro. “Mas o Ministério da Integração Nacional determinou que a verba fosse gerenciada pelo governo estadual”, declara. O secretário também reforça que os recursos disponíveis são insuficientes. Um levantamento indicou a necessidade de R$ 89 milhões para as obras, mas a União concordou em repassar apenas R$ 25 milhões, divididos em duas etapas. O governo estadual destinou R$ 20,5 milhões. Ainda não está definido como será feito o restante das obras que não dispõem de recursos financeiros.

Terreno devastado prejudica agricultura

Só há um capão de mato no lugar onde estava a casa do agricultor Carlos Pereira dos Santos. Pedaços de madeira e tijolos foram parar a mais de 30 metros de distância com a enxurrada. A família passou dois dias na mata até ser resgatada. “Pobre é assim, só com desgraça pra andar de helicóptero”, brinca a filha Ana Paula. Hoje, eles moram em casas que antes serviam de asilo para idosos. Acostumados à lida da roça, o agricultor e as filhas não conseguem trabalho na cidade. A família vive com um salário mínimo, de aposentadoria, e a cesta básica que recebe. Quase todos os dias, de ônibus, Santos percorre 28 quilômetros para ir até a terra em que plantava.Ele ainda tentar cultivar aquele terreno devastado, cheio de entulhos e pedras gigantes.



Casa dos sonhos sob a água

Casa dos sonhos sob a água (Marco André Lima/ Gazeta do Povo)

Depois de 17 anos guardando dinheiro para comprar a casa própria, o eletricista João Batista Leite Campos morou apenas um ano no imóvel tão desejado. Quase nada pôde ser salvo da enxurrada, que trouxe uma árvore inteira para o lugar em que era a lavanderia de sua casa. Além de falta de informação – “nada foi conversado ou discutido em conjunto” – ele reclama do tamanho da casa que deve ganhar em Antonina. Batista garante que tirou as medidas do sofá de dois lugares, comprado em uma loja de usados, e que o móvel não caberá na nova sala.



Isopor para tentar manter a privacidade

Isopor para tentar manter a privacidade (Marco André Lima/ Gazeta do Povo)

A auxiliar de serviços gerais Sandra Sérvolo Veloso escapou duas vezes de se ferir com os desmoronamen­tos. Primeiro, a casa em que morava com o marido e os dois filhos foi derrubada por deslizamentos de terra. Depois, ela procurou abrigo a 200 metros de distância, na casa da sogra, que também veio abaixo no dia seguinte. “Trabalho perto e passo todos os dias por lá. Ainda não acredito no que aconteceu”, diz.

Absolutamente todos os parentes de Sandra, em Antonina, ficaram sem ter para onde ir. As 25 pessoas foram levadas para abrigos improvisados. O pai dela, Celso Sérvolo Veloso, diz que já revirou várias vezes os entulhos da casa onde morava, ao lado da filha, para ver se encontrava lembranças ou produtos de valor. Impedido de reconstruir a casa – por estar em área de risco – ele espera uma solução para ter novamente um lar.

Por enquanto, as famílias vão improvisando do jeito que dá. Sandra, por exemplo, dividiu com isopor o corredor do local em que vive com mais uma família. Tem sala, cozinha, banheiro e um quarto. Apesar das dificuldades, a auxiliar acredita que está bem instalada e agora vive a expectativa de morar na casa nova. “Parece legal, mas será pequena”, diz.


Cronologia

Relatório do governo estadual mostra o caminho da burocracia até o início das ações:

Março – resgates e abrigamento. Assinatura de decretos de situação de emergência e estado de calamidade pública. Início de obras emergenciais. Elaboração de um plano de trabalho.

Abril – envio do plano de trabalho ao Ministério da Integração Nacional.

Maio – ajustes no plano de trabalho para que contenha apenas obras emergenciais.

Junho – análise do plano de trabalho pelo governo federal.

Julho– retirada de material lenhoso, finalização dos trechos de acessos às comunidades, recuperação de pontes e cabeceiras em rodovias estaduais.

Agosto –técnicos do Ministério de Integração Nacional visitam áreas devastadas.

Setembro – novo ajuste no plano de trabalho para adequá-lo à verba federal.

Outubro – envio do plano de traba­lho alterado para aval do ministério.

Novembro – aprovado o plano de trabalho, início das licitações para a contratação de projetos e obras.

Katia Brembatti para Gazeta do Povo

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Banco Mundial anuncia aliança para salvar os oceanos

Instituição promete ao menos US$ 300 milhões para ajudar a montar esforço global


Nascer do Sol junto ao arquipélago de Wakatobi, na Indonésia: é preciso estabelecer valor para recursos e serviços ambientais prestados pelos oceanos

O Banco Mundial anunciou nesta sexta-feira a criação de uma aliança mundial para melhor gerenciar e proteger os oceanos do planeta, sob a ameaça da pesca exagerada, poluição e mudanças climáticas. O presidente da instituição, Robert Zoellick, lembrou que os mares são o sangue da vida da Terra e da economia global, mas sofre com a superexploração, costas degradadas e seus corais e recifes estão em risco.
- Precisamos de um novo SOS: salvem nossos mares (em inglês, “save our seas”) - pediu durante conferência sobre a conservação dos oceanos em Cingapura.
Segundo Zoellick, a ideia é unir países, centros científicos, organizações internacionais e não governamentais, fundações e o setor privado em um parceria ampla. Já o Banco Mundial auxiliaria o esforço com seus já existentes programas de apoio à preservação dos oceanos e na obtenção de financiamento, ajudando a desenvolver um mecanismo para dar um valor aos benefícios fornecidos pelos mares. A princípio, a instituição comprometeria pelo menos US$ 300 milhões na formação da aliança.
- Mas trabalhando com os governos, a comunidade científica, a sociedade civil e a iniciativa privada, pretendemos levantar até US$ 1,2 bilhão para apoiar o uso sustentável dos oceanos – acrescentou.
Milhões de pessoas dependem dos oceanos para trabalhar e se alimentar e essa dependência vai crescer a medida que o mundo caminha para uma população de 9 bilhões de pessoas, o que destaca a necessidade de seu melhor gerenciamento. De acordo com Zoellick, um dos principais focos para isso é compreender o valor total das riquezas e dos serviços ambientais prestados por eles. Os oceanos são a principal fonte de oxigênio do planeta, ajudam a regular o clima e as suas formações costeiras protegem áreas povoadas de tempestades e outros desastres naturais, benefícios geralmente tidos como certos.
- Qualquer que seja o recurso, é impossível montar um plano para gerenciá-lo e desenvolvê-lo sem saber o seu valor – destacou o presidente do Banco Mundial.
Outro objetivo da aliança é ajudar a reconstruir os estoques pesqueiros do planeta, já que cerca de 85% das áreas de pesca dos oceanos estão classificadas como totalmente exploradas, superexploradas ou até mesmo esgotadas.
- É preciso aumentar os ganhos líquidos da pesca para entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões anuais. Atualmente, estimamos que a indústria pesqueira opera com um prejuízo econômico de US$ 5 bilhões por ano – indicou Zoellick.
Fonte: O Globo

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Brasil será sede do Dia Mundial do Meio Ambiente de 2012



O anúncio oficial foi feito pelo Diretor Executivo do PNUMA e pela Ministra do Meio Ambiente do Brasil durante coletiva de imprensa realizada no dia 22 de fevereiro (quarta-feira),na sede do PNUMA em Nairóbi.


Nairóbi (Quênia)– O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) anunciou que o Brasil, dono de uma das economias que crescem mais rápido no mundo, será a sede das celebrações globais do Dia Mundial do Meio Ambiente (WED, na sigla em inglês), comemorado anualmente no dia 5 de junho.

O tema deste ano: “Economia Verde: Ela te inclui?” convida o mundo a avaliar onde a Economia Verde está no dia-a-dia de cada um e estimar se o desenvolvimento, pelo caminho da Economia Verde, abrange os resultados sociais, econômicos e ambientais necessários em um mundo de 7 bilhões de pessoas, que deve chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050.

O Brasil foi sede do WED em 1992, durante a Cúpula da Terra, quando chefes de Estado, líderes mundiais, oficiais de governo e organizações internacionais se encontraram para reorientar, recalibrar e traçar um caminho rumo ao desenvolvimento sustentável.

“Ao celebrar o WED no Brasil em 2012, estamos voltando às raízes do desenvolvimento sustentável contemporâneo para criar um novo caminho que reflita as realidades, mas também as oportunidades do novo século”, declarou Achim Steiner, Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA.

“Três semanas após o WED, o Brasil receberá a Rio+20, onde líderes mundiais e nações se reencontrarão para desenhar um futuro que faça do desenvolvimento sustentável uma prática bem-sucedida – um futuro que pode fazer crescer economias e gerar trabalhos decentes sem pressionar os limites do planeta”, adicionou.

O Brasil tem o quinto maior território do mundo, com quase 8,5 milhões de Km2 onde vivem mais de 200 milhões de pessoas, o que o torna o quinto país mais populoso do mundo.

Em anos recentes, o Brasil deu grandes passos para resolver problemas como o desmatamento da Amazônia por meio do monitoramento da região.

Estimativas mostram que o Brasil alcançou uma redução significativa de gases causadores de efeito estufa como resultado da redução das taxas de desmatamento.

Segundo o relatório do PNUMA chamado Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza, o Brasil tem tido uma posição de destaque na construção de uma economia que inclui a reciclagem, a energia renovável e a geração de empregos verdes.

A indústria de reciclagem do Brasil gera um retorno de dois bilhões de dólares, ao passo que reduz as emissões de gases de efeito estufa em dez milhões de toneladas.

Só no Brasil, na China e nos Estados Unidos, a reciclagem, em todas as suas formas, já emprega doze milhões de pessoas.

O Brasil é também líder na produção sustentável de etanol como combustível de veículos e está se expandindo em outras formas de energia renovável como a eólica e solar.

Recentemente, a construção de 500.000 novas casas com instalações de painéis solares no Brasil gerou 300 mil novos empregos.

“Nós estamos muito felizes por sediar as celebrações globais pelo meio ambiente. O Dia Mundial do Meio Ambiente no Brasil será uma grande oportunidade para apresentar os aspectos ambientais do Desenvolvimento Sustentável nas semanas que antecedem a Conferência Rio+20”, declarou a Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, que esta semana está participando da Sessão Especial do Conselho Administrativo do PNUMA em Nairóbi, Quênia.

“A história do Brasil, com a complexidade de sua economia diversa e dinâmica, a sua riqueza de recursos naturais e seu atual papel nas relações internacionais, oferece uma perspectiva única por meio da qual um resultado amplo e transformador se tornará possível na Rio+20”, adicionou Achim Steiner. “O forte comprometimento do Brasil com a equidade social e seu papel de destaque entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento, pode guiar e moldar debates”.

“O conceito contemporâneo de desenvolvimento sustentável nasceu no Brasil e podemos considerar que o potencial que esse modelo apresenta para responder a desafios e oportunidades futuras será definido no Brasil daqui a quatro meses”, completou Steiner.

As celebrações do WED no Brasil, na semana do dia 5 de junho, é parte de milhares de eventos que acontecem no mundo todo. O WED 2012 vai enfatizar o modo como ações individuais podem ter um impacto exponencial, com uma variedade de atividades que vão desde uma maratona até mutirões de limpeza, competições entre blogueiros, exibições, seminários, campanhas nacionais e internacionais e muito mais.

A Kia Motors, a segunda maior produtora de carros da República da Coreia, doou cinco veículos ao PNUMA em resposta ao tema do WED 2012 – Economia Verde: Ela te inclui? --, marcando o comprometimento da Kia com a sustentabilidade ambiental.

Os carros incluem o Kia Rios e um Kia Optima Híbrido 2012, escolhidos pela comprovada eficiência de combustível.

“Ao participar de parcerias ambientais como esta com o PNUMA, temos o objetivo de apoiar esforços para solucionar os desafios ambientais globais”, disse Soon-Nam Lee, Diretor de Marketing Exterior da Kia Motors. “O tema deste ano ressoa os objetivos principais da nossa gerência ambiental de alcançar menores emissões de carbono e eficiência de recursos e colocar o meio ambiente à frente de todas as nossas atividades corporativas”.

Achim Steiner aproveitou a oportunidade para agradecer ao apoio da Kia e informou que o PNUMA e a Kia lançarão uma competição mundial em que organizações e grupos de todos os setores da sociedade poderão ganhar um dos veículos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Prefeitos superestimam danos climáticos para receber mais verba

Gestores públicos aproveitam a ineficiência da fiscalização dos órgãos de controle para superestimar danos, receber mais recursos e abusar de compras e obras sem licitação


Estiagem no Rio Grande do Sul 2012/ Diego Vara/Agência RBS/Folhapress


Se a indústria da seca fez história no Nordeste, hoje é a indústria das chuvas que virou fenômeno no Sul do país. Prefeitos aproveitam a ineficiência da fiscalização dos órgãos de controle para superestimar danos, receber mais recursos e abusar de compras e obras sem licitação para desviar dinheiro público.

Levantamento feito pelo GLOBO em vários municípios localizou notas fiscais forjadas para justificar compras de materiais de construção nunca entregues, obras refeitas duas vezes em menos de dois anos, casas que nunca ficam prontas e pedido para construção de pontes que já existiam, além de denúncias de direcionamento de contratos e pagamentos por serviços não executados.

Para a indústria das chuvas entrar em ação, o primeiro passo é decretar emergência ou estado de calamidade, o que permite dispensa de licitação. Nos últimos quatro anos, municípios de duas das 27 unidades da Federação - Santa Catarina e Rio Grande do Sul - responderam por quase metade (45%) das declarações em todo o país.

No Ministério da Integração, apenas seis funcionários cuidam da aprovação dos decretos, sem verificar in loco os danos alegados nos relatórios.

- O prefeito decretou situação de emergência, a "porta da esperança" está aberta para a licitude - admite o vice-prefeito de Barra Velha (SC), Claudemir Matias Francisco, que assumiu o lugar do prefeito anterior, Samir Mattar, afastado por suspeita de falsa comunicação de desastres para realização de compras fraudulentas e desvio de verba pública.

Compras que nunca são entregues

Quando Barra Velha recebeu R$ 249 mil da União para recuperar vias alagadas em 2008, Mattar foi acusado de cobrar R$ 20 mil de propina da empresa escolhida para ser contratada, segundo a Polícia Federal. Um ano depois, decretou situação de emergência por causa de um vendaval e recebeu R$ 609 mil. Parte das compras realizadas com o dinheiro nunca foi entregue.

Diante de novos deslizamentos, a cidade apresentou ao governo federal orçamento de R$ 950 mil. Mas, segundo levantamento anterior do município, o custo real era de R$ 83 mil. Em janeiro de 2010, novo decreto foi publicado, e o município pediu mais R$ 1 milhão para construir uma ponte que já existia. A Polícia Federal conseguiu impedir o repasse.

- Hoje a comunicação de decreto e pedido de verba é on-line. O ministério avalia o pedido, o orçamento, mas à distância. Notícias falsas nem sempre são detectadas, e por isso eles ficam reféns da má-fé de alguns gestores - conta o delegado federal Alessandro Netto Vieira, responsável pela investigação.

Levantamento realizado pelo GLOBO a partir de dados do Ministério da Integração mostra que 55 cidades tiveram mais de seis decretos reconhecidos pela União nos últimos quatro anos. Do total, 52 estão em Santa Catarina e três no Rio Grande do Sul. O ápice se deu em 2010, quando 266 cidades, 90% do total de municípios catarinenses (295), decretaram emergência. O volume é 3,5 vezes maior que o registrado em 2008 (77), ano em que o estado vivenciou a maior tragédia climática de sua história, com enchentes que mataram 135 pessoas.

Especialistas lembram que a decisão de decretar ou não emergência é mais complexa do que a análise de eventos climáticos - fatores devem ser considerados, como característica de bacia hidrográfica, drenagem de águas pluviais, estrutura das cidades.

No ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) instaurou nove processos para avaliar a execução das obras de resposta a desastres apenas no Rio Grande do Sul. Os processos não foram concluídos, porém auditores ouvidos pelo GLOBO atestam a existência de casos nos quais o dinheiro para recuperação foi parar em obras que o município já demandava bem antes de se abater a calamidade.

Em auditoria realizada em 2010 na Secretaria Nacional de Defesa Civil, técnicos do TCU alertaram para a fragilidade da fiscalização das obras de reconstrução, criticando a falta de projetos para a execução de obras e a inexistência de clareza sobre a responsabilidade de União, estados e municípios.

De R$ 3 milhões repassados pelo governo federal para obras emergenciais frente aos desastres do fim de 2009, em Monte Castelo (SC), 2% foram efetivamente gastos em materiais de construção, segundo laudo produzido pela Defesa Civil a pedido do Ministério Público Federal. Para justificar o repasse, três empresas forjaram notas fiscais, e funcionários da prefeitura confirmaram o recebimento dos materiais.

No fim de 2011, o MPF obteve na Justiça o bloqueio de bens do prefeito Aldomir Roskamp e denunciou outras cinco pessoas, entre elas a secretária de Habitação e o coordenador municipal de Defesa Civil. Ao relatar os danos no município, o prefeito informou ter havido danos a 800 galpões e 800 estufas. Mas a cidade de 8,3 mil habitantes tem pouco mais 300 estufas e 200 galpões.

- O prefeito apresentou estimativa falaciosa de danos para captar recursos de emergência, em desacordo com a necessidade real - diz o procurador da República Daniel Holzmann Coimbra, que pediu ressarcimento para os cofres públicos de R$ 2,9 milhões.

Informe preliminar da CGU aponta problemas na aplicação de recursos para desastres de 2008 em Blumenau (SC). Dentro de uma amostra de fiscalização de investimentos em todo o estado de Santa Catarina, o órgão federal concluiu que apenas 14 de 324 moradias foram construídas, apesar de ter havido repasse integral de recursos.

O diretor de prevenção de Defesa Civil de Santa Catarina, Emerson Neru Emerim, argumenta que o estado viveu nos últimos anos eventos climáticos complexos, mas admite haver abusos por parte de municípios.

- O número de decretos cresceu porque muitos desastres ocorreram, é fato. Mas a indústria da decretação também cresceu - afirma o dirigente, que defende a criação de supervisões regionais para que técnicos possam verificar no dia seguinte a real situação.
Fonte: Agência O Globo

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Vazamento revela lobby contra ensino das mudanças climáticas

Documentos publicados na internet mostram que ONG mobiliza esforços e grandes doadores para contestar aquecimento global


A Conferência Internacional de Mudança Climática de 2008 reuniu na Times Square céticos do aquecimento global Richard Perry/The New York Times

NOVA YORK - Documentos vazados na internet sugerem que uma organização conhecida por atacar a ciência do clima estaria planejando uma nova ação para tentar minar o ensino do aquecimento global em escolas públicas dos Estados Unidos. Eles são de uma organização sem fins lucrativos em Chicago chamada de Instituto Heartland. O plano é promover um currículo que venha a lançar dúvidas sobre a constatação científica de que as emissões de combustíveis fósseis põem em perigo o bem-estar a longo prazo do planeta. “Diretores e professores estão fortemente inclinados na direção de uma perspectiva alarmista”, relata o documento.
Antes mesmo do vazamento deste documento, cujos termos oferecem uma amostra dos argumentos da campanha contra a ciência do clima, especialistas que defendem o ensino de ciências já estavam se preparando para uma batalha. Eles alertam que os esforços para minar as matérias que tratam de aquecimento global estão se espalhando pelos Estados Unidos e temem uma luta semelhante à travada no ensino da evolução nas escolas públicas.
Em um memorando, o Instituto Heartland reconheceu que alguns dos seus documentos internos tinham sido roubados. Seu presidente, em nota, não confirmou se as versões que circulam na internet desde a última terça-feira foram modificadas ou não, alegando falta de tempo para checar estas informações.
A ONG declarou, em um comunicado de duas páginas, que os termos dos documentos vazados tinham sido falsificados. Porém, o tom e o conteúdo deles foram considerados muito parecidos com o de outros documentos não contestados. Além disso, o Instituto chegou a se desculpar com doadores cujos nomes foram divulgados nestes vazamentos, reforçando a ideia de que eles são autênticos.
Muitos detalhes das operações da ONG, incluindo salários e as ações recentes para angariar recursos, estão descritas. Os documentos foram enviados por e-mail para ativistas climáticos por um remetente que usou o nome “de dentro do Heartland". Rapidamente o material foi republicado em sites que abordam as mudanças climáticas.
A ONG, por sua vez, alegou que os documentos não são de uma pessoa de dentro da instituição, mas foram obtidos por alguém que fingiu ser membro do conselho do grupo e alegou que seu próprio endereço eletrônico estava sendo alterado. “Temos a intenção de encontrar essa pessoa e vê-la colocada na prisão por esses crimes”, disse a organização.
Embora seja mais conhecida nacionalmente por seus ataques contra a ciência do clima, a Heartland se define como uma organização libertária, com interesses em uma ampla gama de questões de políticas públicas. Nos documentos vazados há a estimativa de levantar 7,7 milhões dólares neste ano.
Os vazamentos põem em dúvida se o grupo tem realizado atividades políticas partidárias, uma potencial violação da lei de imposto federal americana para grupos sem fins lucrativos. Por exemplo, o tópico do documento chamado “Operation Angry Badger” é um plano para gastar 612 mil dólares e influenciar o resultado de plebiscitos em Wisconsin sobre o papel dos sindicatos do setor público.
Tributaristas disseram nesta quarta-feira que grupos isentos de impostos foram autorizados a realizar alguns tipos de lobby e de política educacional, mas, por serem subsidiados pelos contribuintes, são proibidos de ter envolvimento direto em campanhas políticas.
Os documentos também mostram que o grupo recebeu dinheiro de algumas das maiores corporações do país, incluindo algumas que há muito defendem a luta contra a mudança climática.
Os documentos normalmente dizem que essas doações foram destinadas a projetos não relacionados à mudança climática, como a publicação de boletins sobre direitos, drogas e política tecnológica. No entanto, várias das empresas se apressaram na quarta-feira a se desassociar da postura desta ONG.
- Nós não endossamos ou apoiamos os seus pontos de vista sobre o ambiente ou a mudança climática - disse Sarah Alspach, porta-voz da GlaxoSmithKline, uma empresa farmacêutica multinacional que figura nos documentos como doadora de 50 mil dólares nos últimos dois anos para apoiar um boletim médico.
Um porta-voz da Microsoft, outra doadora listada, disse que a empresa acredita que “a mudança climática é uma questão séria que exige ação imediata em todo o mundo.” A companhia é apresentada nos documentos como tendo contribuído 59,9 mil dólares no ano passado para um boletim de notícias de tecnologia. Porém, o porta-voz da Microsoft, Mark Murray, disse que esta não era uma contribuição em dinheiro, mas sim o valor do software livre que a Microsoft dá a milhares de grupos sem fins lucrativos.
Talvez o aspecto mais intrigante dos documentos Heartland seja o que eles não contêm: a evidência de contribuições das grandes empresas petrolíferas de capital aberto, que ambientalistas suspeitam de financiar secretamente os esforços para minar a ciência do clima.
Os interesses do setor de petróleo, porém, estão representados. Os documentos dizem que a Fundação de Caridade Charles G. Koch contribuiu com 25 mil dólares no ano passado. Esperava-se que ela contribuísse com 200 mil este ano. Koch é um dos dois irmãos que foram proeminentes defensores de causas libertárias, bem como de outras obras de caridade. Eles controlam as indústrias Koch, uma das maiores empresas do país e refinadora de petróleo.
Os documentos sugerem que a Heartland gastou vários milhões de dólares nos últimos cinco anos em seus esforços para minar a ciência do clima, em grande parte financiada por um “doador anônimo”. Desde quarta-feira começou um jogo de adivinhação sobre quem ele deve ser.
Os documentos dizem que entre 2010 e 2013, o grupo espera ter investido cerca de 1,6 milhão de dólares em financiamento do Painel Não-Governamental Internacional sobre Mudança Climática, uma entidade que publica relatórios periódicos atacando a ciência do clima e que realiza muitas conferências anuais.
O plano mais recente da Heartland, os documentos dizem, é criar um currículo para as escolas públicas no qual a ciência do clima é questionada. Para isso, a ONG separou 200 mil dólares em 2012. O currículo diria, por exemplo, que “se os seres humanos estão mudando o clima é uma grande controvérsia científica”.
O que, de fato, não é uma controvérsia científica. A grande maioria dos cientistas do clima dizem que as emissões geradas por seres humanos estão mudando o clima, colocando o planeta em risco a longo prazo, embora não tenham certeza sobre a magnitude exata desse risco. Porém, há uma grande controvérsia política se, e como, o país vai conter suas emissões de gases de efeito estufa.
O Centro Nacional para Educação Científica, um grupo que teve um sucesso notável na luta para melhorar o ensino da evolução nas escolas públicas, colocou recentemente a questão das mudanças climáticas em sua agenda em resposta aos apelos dos professores que dizem se sentir sob pressão para diluir a ciência .
Mark S. McCaffrey, diretor dos programas de políticas para o grupo, que está em Oakland, Califórnia, disse que os documentos Heartland revelaram que “eles continuam a promover dúvida, confusão e debate onde não há realmente nada”.

Desastres naturais e desigualdade


A criação de programas governamentais de prevenção e educação, que priorizem a realocação e a conscientização de pessoas que residem atualmente em áreas de risco, é fundamental para salvar vidas

Artigo publicado originalmente no Jornal Gazeta do Povo

Tenho dedicado parte do tempo de trabalho para analisar os impactos dos desastres naturais sobre as diferentes classes sociais. Aparentemente, na ocorrência de um evento natural de grandes proporções como um terremoto, uma avalanche ou um tsunami, todos, independentemente de classe social, idade ou raça, sofrem a mesma força da natureza. Porém, a forma como esses impactos são sentidos e a capacidade de reação das populações é que salta os olhos. Os mais pobres e os mais velhos são frequentemente os mais atingidos e os últimos a serem atendidos em grande parte das crises.

Recente estudo publicado pela Universidade de Berkeley destaca que, após o evento do Furacão Katrina em 2005, quando mais de 1 milhão de pessoas foram evacuadas de New Orleans, mais de 60% dos desabrigados e alojados nos ginásios e outros espaços públicos em condições precárias eram afrodescentes de baixa renda. Estudos posteriores confirmam que as pessoas das classes mais abastadas nesse mesmo momento já estavam fora do perímetro do local atingido, abrigadas em casas que possuem fora da área de risco ou em hotéis.

Padrão semelhante foi identificado no Tsunami do Japão em 26 de dezembro de 2004, que vitimou mais de 150 mil pessoas e desabrigou outras tantas. O impacto não se deu de forma igual sobre toda a população. Os mais pobres foram significativamente mais afetados. Frequentemente isso ocorre por os grupos vulneráveis estarem vivendo em áreas de risco e ficarem mais fragilizados e desassistidos após os desastres.

No Brasil a situação se repete. As enchentes e deslizamentos de terra que atingiram o Rio de Janeiro afetaram principalmente as cidades localizadas na Região Serrana do estado. Os serviços governamentais contabilizaram 916 mortes e em torno de 345 desaparecidos. Pessoas dos mais diversos níveis sociais foram vitimadas, entre elas políticos e empresários.

Porém, passado um ano da tragédia, a população que continua sofrendo os impactos do evento é a de baixa renda. Iniciando pelas enfermidades que se espalharam pelo local após a tragédia, estradas que permanecem intransitáveis em alguns pontos e culminando com a falta de novas moradias para os desabrigados. O governo estadual calculou que seria necessário um investimento de R$ 3,4 bilhões para a recuperação da área em dois anos. Porém, pouco mais de 50% do que foi prometido foi efetivamente aplicado ou destinado às camadas mais frágeis da sociedade.

Quadro semelhante pode ser visto em março de 2011 quando os deslizamentos causados pelas chuvas desalojaram ou afetaram cerca de 28 mil pessoas nos municípios de Morretes, Antonina e Paranaguá. Ainda hoje muitas famílias vivem em condições precárias ou moram em casas de parentes e amigos. Algumas estradas foram recuperadas, mas outras vias de acesso, passados quase 12 meses ainda estão intransitáveis.

Analisadas as questões acima, algumas recomendações merecem ser feitas. Inicialmente a simples aplicação de leis vigentes no Brasil, como o Código Florestal Nacional, que proíbe a construção em áreas com declividade superior a 45 graus e áreas de entorno de rios e cursos d’água, já diminuiria substancialmente os impactos de eventos catastróficos sobre a população.

Paralelamente a criação de programas governamentais de prevenção e educação, que priorizem a realocação e a conscientização de pessoas que residem atualmente em áreas de risco, é fundamental para salvar vidas.

Ao criar campanhas para atender os atingidos por desastres naturais, os gestores públicos deveriam partir da premissa de “tratar desigualmente os desiguais na medida da sua desigualdade”. Todos merecem e devem ser apoiados; mas em eventos naturais, contrariando algumas tendências de nossa sociedade contemporânea, devemos sim dar prioridade aos cidadãos mais vulneráveis.


Paulo de Tarso Lara Pires, engenheiro florestal e advogado, é mestre em Economia e Política Florestal pela UFPR e doutor em Ciências Florestais (UFPR). Atualmente está desenvolvendo Pós-Doutorado em Direito Ambiental e Desastres Naturais na Universidade de Berkeley – Califórnia.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Izabella Teixeira anuncia liberação de créditos para combater mudanças climáticas


O Fundo Clima está em vigor. O anúncio foi feito na última segunda-feira (13) pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A proposta tem como objetivo incentivar o desenvolvimento sustentável no Brasil.

O programa foi lançado em 2011, mas somente agora tem as linhas de crédito liberadas, conforme informado pela ministra Izabella Teixeira e pelo presidente do BNDES Luciano Coutinho. Inicialmente estarão disponíveis R$200 milhões, mas é possível que o montante alcance R$560 milhões até o final deste ano.

A verba estará disponível para financiar projetos que reduzam a quantidade de gases de efeito estufa liberados pelo setor de transportes, energia e que trabalhem com o intuito de melhorar a mobilidade urbana em grandes cidades brasileiras. Além disso, pesquisas direcionadas a essas áreas também terão espaço no financiamento.

Outros setores que estão inclusos no projeto são máquinas e equipamentos eficientes, ações de combate à desertificação e estruturas que transformem resíduos em energia.

O petróleo é o maior fornecedor de recursos usados no programa, responsável por prover 60% do capital através da Participação Especial do Petróleo, recebido pelo Ministério. Apesar de contar com o apoio direto do BNDES, nem todo o montante será disponibilizado em forma de empréstimo. O MMA será responsável pela gestão de uma parte que será investida sem reembolso.

Para Mauro Pires, secretário de mudança climáticas do MMA, “alinha de crédito do Fundo Clima é um instrumento importantíssimo para que o Brasil consiga alcançar compromissos nacionais voluntários de redução de emissões de gases de efeito estufa”. Segundo ele, a medida deve incentivar empreendimentos eficientes, que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e auxiliem no combate às mudanças climáticas.

Os projetos poderão contar com até 90% do valor financiado pelo BNDES, com taxas de juros de 2,5% ao ano e prazo de até 25 anos. Com informações do Globo Natureza.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Expansão da agricultura agravará mudanças climáticas, diz ONU


Mais de 20% de florestas de países desenvolvidos devem ser convertidos em lavouras até 2030

Plantio direto no plantio de soja no Brasil foi citado com bom exemplo pelo Pnuma

Mais de 20% de florestas ou pradarias em países em desenvolvimento devem ser convertidos em lavouras até 2030, caso o ritmo de exploração agrícola seja mantido. A estimativa está no Livro Anual do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançado nesta segunda-feira. Além de causar grande impacto na biodiversidade, o uso do solo deverá acelerá as mudanças climáticas.

A terra contém grande quantidade de carbono na forma de matéria orgânica, fundamental para o crescimento das plantas. Estimativa do Pnuma indica que o solo armazena cerca de 2,2 trilhões de toneladas de carbono. Esta quantidade é três vezes superior aos atuais níveis da atmosfera. Além disso, as florestas são fundamentais para que a água das chuvas penetre em aquíferos.

A produtividade das plantações também é afetada. As taxas de erosão do solo são cerca de 100 vezes maiores do que a natureza tem capacidade de aguentar. De acordo com o Pnuma, 24% da área do planeta enfrentam problemas durante os últimos 25 anos, resultado do plantio insustentável.

O Brasil é citado no relatório como um exemplo positivo. Mudanças nas lavouras de soja, como plantio direto (que diminui a erosão do solo) e sistemas de rotação de culturas levaram a uma taxa de sequestro de 0,41 toneladas de carbono orgânico do solo por hectare por ano.

Além dos problemas com o solo, a publicação da ONU revela que o número de usinas nucleares no final de sua vida útil é preocupante. Desde janeiro, a previsão é que 138 reatores deveriam ter sido fechados em 19 países, sendo 28 nos Estados Unidos, 27 no Reino Unido, 27 na Alemanha, 12 na França, nove no Japão e cinco na Rússia. Porém, isto só ocorreu em 17 deles, até o momento.

- Os assuntos podem parecer separados e desconexos, mas ambos vão para o coração de diversas questões fundamentais: como o mundo vai produzir alimentos e combustíveis enquanto luta contra as alterações climáticas, lindando com resíduos perigosos – afirmou Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma, em nota. - O Livro do Ano cita muitas opções para a gestão, melhoria sustentável, tais como plantio direto para as políticas que podem ajudar na agricultura produtiva sem drenar pântanos.
Fonte: O Globo

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Série Plantadores de Florestas- Cap. VII- A defensora do pau-brasil


Ana Cristina Roldão, da FunBrasil, segue de perto os passos do pai, que dedicou 40 anos de sua vida ao plantio da árvore nacional


Ana Cristina fiscaliza o crescimento das mudas às margens do rio Capibaribe
Dos cinco filhos de Roldão de Siqueira Fontes, apenas a caçula saiu ao pai. Ana Cristina herdou do professor a paixão pelo pau-brasil e a imensa paciência para contar, recontar e redesenhar a história da árvore nacional. Enquanto o pai viveu, ela o acompanhou. Ele à frente, ela à sombra, ambos semearam, plantaram e ensinaram a manter bosques carregados de simbolismo por todo o Brasil.

Durante os 40 anos dedicados a promover o conhecimento sobre o pau-brasil, o professor Roldão distribuiu cerca de 2 milhões e 700 mil mudas da espécie, conhecida pelos cientistas como Caesalpinia echinata. Desde 1996 – quando ele se foi – Ana Cristina toca sozinha a Fundação Nacional do Pau-Brasil (FunBrasil), em Glória do Goitá, Pernambuco. Com a esperança confessa de um dia despertar o interesse dos netos gêmeos, Ana Beatriz e João Victor, hoje com 4 anos, e transformá-los também em plantadores de florestas.

Nascida Ana Cristina de Siqueira Lima, ela acabou adotando o nome “artístico” pelo qual a mídia sempre a tratou, numa referência ao pai: Ana Cristina Roldão. Aprendeu a cuidar de roças e criações no Colégio Agrícola de São Bento, onde ele lecionava. “Sou capa gado formada, como fala o povo daqui”, comenta, numa alusão ao seu conhecimento prático, pé no chão. E ainda se vira com a papelada da FunBrasil, que ajudou o pai a criar em 1988.

Aos 59 anos, com a filha única criada e casada, morando em Recife, Ana Cristina divide-se entre o cuidado cotidiano com a irrigação das mudas de árvores nativas; a coordenação dos convênios estabelecidos com prefeituras e empresas para reflorestamentos e o acompanhamento dos visitantes, tanto nas trilhas interpretativas do bosque que rodeia a sede da fundação, como por entre os objetos e as fotos do Museu do Pau-Brasil, ali vizinho.

Capaz de se multiplicar sem perder o fio da meada, Ana Cristina só lamenta a falta de recursos para fazer mais: mais mudas, mais campanhas educativas, mais plantios. Em sua gestão à frente da fundação, ela diversificou, passando a trabalhar com outras 42 espécies de árvores nativas, além do pau-brasil, como os ipês roxo e amarelo, a sucupira, o cajueiro, o angico, o angelim e o jatobá. Em alguns plantios, acrescenta mudas produzidas em outros viveiros para chegar mais perto da diversidade original das matas.

Vale lembrar que, no Nordeste, a Mata Atlântica original já ocupava uma faixa bem mais estreita junto ao litoral, se comparada ao domínio da floresta na região Sudeste. E o desmatamento também foi mais prolongado – desde o século XVI – e intenso, sobretudo para exportação de madeiras – como o pau-brasil – e para abertura de engenhos e cultivo de cana-de-açúcar. Por isso, restam hoje apenas fragmentos pequenos e pulverizados no mapa, quase todos em propriedades rurais ou em áreas públicas e não protegidos em unidades de conservação.

Sementes de pau-brasil colhidas no bosque da fundação, para produção de mudas

Cerca de 50 espécies nativas de madeira de lei são cultivadas no viveiro de Glória do Goitá (PE)

Irrigação diária das mudas de árvores nativas da Fundação Nacional do Pau-Brasil.


Assim, toda e qualquer mudinha que cresça e “vingue”, como se diz por lá, é uma vitória. Justifica a atenção redobrada e o apelido atribuído por Ana Cristina às suas plantas: “Chamamos de filhotas, não só as de pau-brasil, mas todas as mudinhas. São as filhas que nós plantamos com cuidado e dedicação. E esse amor que a gente coloca, a gente tem a pretensão de que permeie para quem pegar nelas. Que eles as tratem bem, como nós as tratamos”, explica. “Espero, em Deus e na força da natureza, que mais pessoas se sensibilizem e trabalhem na restauração e no retorno das grandes árvores, porque são elas que dão equilíbrio ao Planeta”.

No princípio, o trabalho de divulgação realizado por Roldão de Siqueira Fontes tinha motivos históricos. Como professor de História e Geografia do Brasil no antigo Colégio Agrícola de São Bento, ele se indignava com o desconhecimento da população a respeito da árvore que deu nome ao país.

O colégio técnico pertencia à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), localizada no bairro Dois Irmãos, em Recife. Nos jardins de acesso ao prédio, existiam algumas árvores de pau-brasil, pelas quais o professor passava diariamente. No início dos anos 1970, ao descobrir que a espécie estava ameaçada de extinção, ele começou a coletar as sementes e formar mudas em latinhas e outros recipientes disponíveis, para distribuir aos alunos e seus familiares.

A iniciativa tomou vulto em 1972, quando o então reitor da UFRPE, Erasmo Adierson de Azevedo, aderiu à ideia do professor de promover uma campanha nacional em defesa do pau-brasil. “O reitor foi a Brasília de avião para o lançamento da campanha, mas papai carregou um caminhão com 10 mil mudas e foi de Pernambuco a Brasília distribuindo pau-brasil pelo caminho”, conta Ana Cristina.

A abordagem preferida do professor ainda hoje é utilizada por sua filha, com os visitantes da fundação e do museu: “Você já viu um pau-brasil, a árvore que deu o nome ao Brasil e aos brasileiros?”

A imensa maioria responde “não”. E ela emenda com considerações e casos, sempre em busca de adesões para suas campanhas anuais de plantio de bosques. Acaba “fisgando” voluntários com sua fala pontilhada de paixão. Mesmo quando o público a que se dirige é um grupo de jovens semi-internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Recife. Durante esta reportagem, entre a palestra inicial e o passeio com os ex-infratores pela trilha do pau-brasil, Ana Cristina arrumou uma meia dúzia de interessados em ajudá-la a plantar.

O pau-brasil já foi uma árvore que alcançava 40 metros de altura e 1,5 metro de diâmetro no tronco. Hoje já não existem exemplares tão grandes. Ocorria naturalmente do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte, em uma faixa litorânea de Mata Atlântica com largura entre 80 e 150 quilômetros a partir da costa.

Ana Cristina dá uma aula sobre o pau-brasil a uma turma de semi-internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), de Recife

Jovem árvore de pau-brasil, com cerca de 10 a 15 anos de idade

Do século XVI ao XIX, a madeira foi explorada principalmente para tingir tecidos nobres. O cerne do tronco da árvore adulta produz uma tinta de cor vermelho-carmesim, muito valorizada nos séculos passados, antes da descoberta do processo de fabricação de corantes sintéticos (1856). A tonalidade é semelhante à da tinta de outra árvore chamada brazil, originária da Ásia, usada antes do Descobrimento. O nome provavelmente foi emprestado dessa outra espécie, que era mais escassa.

Hoje, a principal exploração – ilegal – é para a construção de arcos de violino. Há notícias de algumas tentativas de cultivar o pau-brasil para abastecer os fabricantes especializados em instrumentos musicais, mas nenhuma experiência foi bem sucedida, por enquanto, embora a FunBrasil esteja empenhada em fazer alguns testes.

Por se tratar de uma leguminosa, a árvore não é muito exigente quanto ao solo. “Basta garantir a rega uma a duas vezes por semana enquanto a muda é pequena e ela vai bem em qualquer terreno”, garante Ana Cristina Roldão. O problema é o crescimento extremamente lento da árvore e a formação – mais lenta ainda – da madeira vermelha do cerne, que só aparece após o décimo ano.

As flores de pau-brasil têm 5 pétalas, sendo 4 totalmente amarelas e uma “pincelada” de vermelho. O fruto é uma vagem com espinhos, contendo de 3 a 6 sementes, em média. Quando a vagem seca, ela se abre e se retorce com tal violência que lança longe as sementes. “O objetivo é semear as novas árvores o mais distante possível da matriz, na renovação natural da mata. Algumas plantas têm sementes com cerdas, que agarram no pelo dos animais e só caem lá adiante, e outras usam esse recurso, conhecido como deiscência”, esclarece Ana Cristina. A rigor, o termo técnico é “deiscência explosiva”, o que dá uma ideia do poder de lançamento da pequena cápsula vegetal.

O pau-brasil também é chamado de arabutã, ibirapitanga, muirapiranga, pau-pernambuco, pau-vermelho e pau-de-tinta. Consta da Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção, elaborada em 2008 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ainda existem alguns exemplares de grande porte nos remanescentes florestais do Sul da Bahia, muito visados por traficantes, pois o corte está proibido, tanto pela legislação brasileira, como pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites).

Já a maior concentração de árvores de pau-brasil plantadas fica na Estação Ecológica do Tapacurá, junto ao campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, com mais de 100 mil exemplares da espécie, metade dos quais fornecidos pelo professor Roldão de Siqueira Fontes, em meados da década de 1970.

Neste verão, a Fundação Nacional do Pau-Brasil estabeleceu um convênio com a Secretaria de Recursos Hídricos de Pernambuco para restaurar a mata ciliar de ambas as margens do rio Capibaribe, justamente a partir do rio Tapacurá, que dá nome à Estação Ecológica.

São 30 mil mudas de 50 espécies de Mata Atlântica, entre as quais estão numerosos exemplares de pau-brasil. O plantio conta com recursos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) e, claro, com a persistência de Ana Cristina Roldão em vencer o capim alto, as formigas, a escassez de chuvas e o fogo acidental (ou criminoso), até as “filhotas” se transformarem em árvores e sobreviverem por conta própria.

Fonte: National Geografic BR

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mudanças climáticas afetam produção de alimentos; ONG prevê que haverá impacto até nos preços

Informações Agência Brasil

Brasília – O prato típico do brasileiro, o arroz com feijão, é muito recomendado pelos nutricionistas por ser rico em carboidratos, sais minerais, vitaminas e fibras. Mas essa tradição pode estar com os dias contados por causa das mudanças climáticas.

Dados apresentados pelo presidente da Cooperativa Agropecuária Mista Regional de Irecê, na Bahia, Walterney Dourado Rodrigues, podem dar uma idéia do porquê. Ele explica que o município já produziu, no passado, 3 milhões de sacas de feijão e, hoje, os agricultores colhem abaixo de 10% desse valor.

“Isso devido a vários fatores, principalmente pelos climáticos. Nos últimos anos, houve uma queda na quantidade de chuvas e, além disso, uma má distribuição de chuvas. Todo ano nós estamos diminuindo a área de plantio de feijão”, acrescenta.

O município baiano é reconhecido pelo grande potencial agrícola e agropecuário, tendo recebido o título de Cidade do Feijão pelas grandes safras colhidas nas décadas de 1980 e 1990. Mas a lembrança dos tempos áureos como primeiro produtor de feijão do Nordeste e o segundo do país ficou para trás. Hoje, só restam dívidas.

“Nós temos mais de 6 mil agricultores, hoje, com débito na dívida ativa [da União] e mais 6 mil com débito direto no Banco do Brasil. Tudo que se planta hoje é com recursos próprios”, desabafa.

A engenheira agrônoma da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Dione Nery Benevenutti diz que as mudanças climáticas alteraram em muito a produção do arroz em Garuva. “Com certeza, essas mudanças climáticas estão acarretando muito o prejuízo na cultura do arroz e, em 2010, tivemos temperatura de 40 ºC. Isso acarretou uma queda de mais ou menos 20% na produtividade da cultura do arroz irrigado”, afirma Dione.

O secretário nacional de Mudança Climática do Ministério do Meio Ambiente, Eduardo Assad, diz que o governo está promovendo ações para a implementação de uma política de redução de gases de efeito estufa. “Estamos lançando o Plano Setorial da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono. Isso implica melhorar as pastagens brasileiras, integrar a lavoura à pecuária, reduzir as emissões e capturar mais carbono, incentivar o plantio direto para as culturas de grãos e o feijão será um dos principais beneficiados. Com isso, mantendo mais água no solo”, explica. De acordo com Assad, a estimativa é que, até dezembro, estejam concluídos outros sete planos setoriais previstos no decreto de regulamentação da Política do Clima.

A organização não governamental britânica Oxfam estima que os preços de alimentos básicos, como arroz e feijão, devem mais do que dobrar em 20 anos, a não ser que os líderes mundiais promovam reformas. Até 2030, o custo médio de colheitas consideradas importantes para a alimentação da população mundial vai aumentar entre 120% e 180%. Metade do aumento desses custos, de acordo com a ONG, deverá ser creditada às mudanças climáticas.

Edição: Lana Cristina

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Série Plantadores de Florestas - Cap. VI - A guardiã do verde nas pequenas propriedades catarinenses

Faltavam mudas? Miriam Prochnow criou um viveiro. Escassearam os recursos? Ela recorreu a estudantes. Ainda precisavam de motivos? Ela inventou os bosques comemorativos


Miriam Prochnow e uma araucária em crescimento, numa das fazendas do parceiro Ângelo Sarda  

Desde o início, uma das cachoeiras do rio Dona Luiza assistiu ao namoro de dois catarinenses, descendentes de alemães: Wigold Schäffer e Miriam Prochnow. Cercada por um pedacinho precioso de floresta nativa, a cachoeira atualmente é o coração da Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra do Pitoco, de propriedade do casal. Está protegida e é parte do jardim de florestas do município de Atalanta, no Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina.

Outra cachoeira do mesmo rio – chamada Perau do Gropp – agora fica dentro do Parque Natural Municipal Mata Atlântica, de 54 hectares, cujos limites também foram estabelecidos pelos dois ambientalistas. Eles ainda se encarregaram do plano de manejo do parque e estão sempre por perto para cuidar de sua preservação.

A mata do parque pertencia a uma serraria e uma fecularia (indústria de farinha de amido), cujas instalações foram reformadas, dando origem a um museu, um auditório e uma estrutura para eventos, na entrada da unidade de conservação. Aos poucos, o parque se transforma num centro de referência em educação ambiental, recuperação de áreas degradadas e enriquecimento de florestas secundárias. Durante a semana, as trilhas em meio à mata servem para estudos do meio e, nos finais de semana, são opções de lazer e turismo.

Além disso, as laterais das cachoeiras abrigam plantas naturalmente raras, como a efêmera rainha-do-abismo, cientificamente conhecida como Sinningia tomentosa. As plantas desse gênero se fixam em paredões rochosos verticais, permanecendo dormentes por meses, só com as raízes e uma “batatinha”. Quando chega a primavera, elas emitem folhas e flores, transformando as rochas em vertiginosos canteiros.

As intervenções de Wigold e Miriam na paisagem de Santa Catarina começaram quando ambos eram crianças, ele em Atalanta, ela em Agrolândia. E tomaram a forma de uma organização não governamental há 25 anos, em conseqüência da dificuldade em convencer os pequenos produtores rurais a reflorestar com árvores nativas. “Começamos pesquisando porque eles desmatavam tanto e não replantavam. As desculpas eram as mais esfarrapadas. Mas, de fato, não havia viveiros com mudas de nativas, só de exóticas como pinus e eucalipto”, conta Miriam. “Então começamos o Jardim das Florestas, com 18 mudinhas no fundo do nosso quintal. E essa iniciativa deu origem à Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida)”.

Fundada em 1987, a Apremavi teve Miriam como presidente e coordenadora de projetos por várias gestões. Ela passou ao Conselho Consultivo em 2003, quando assumiu uma série de compromissos em Brasília, incluindo a coordenação geral da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), por 4 anos. Mesmo com menos tempo em campo, a atenção ao reflorestamento no interior catarinense nunca foi para segundo plano. O viveiro não parou de crescer e, hoje, o Jardim das Florestas tem capacidade para produzir 1 milhão de mudas por ano, destinando entre 700 a 800 mil mudas anuais a projetos de reflorestamento de Áreas de Preservação Permanente (APPs) em terras privadas ou públicas; ao plantio de florestas para sequestro de carbono (programa Clima Legal) e à conciliação da recuperação de florestas com alternativas sustentáveis de renda rural (projeto Matas Legais e programa Planejando Propriedades e Paisagens), entre outros.

O belo fruto do baguaçu, um dos tesouros entre as espécies nativas da região Sul

O enriquecimento de matas ciliares também é uma prioridade no Planalto Catarinense

Araucárias plantadas em linha, para funcionar como cerca-viva de uma propriedade rural

Numa ampla estufa, voluntários e técnicos da ONG semeiam árvores de pelo menos 120 espécies, todas originárias do Planalto Catarinense ou do Paraná. Quando acontece de sobrarem mudas, elas são vendidas a prefeituras e empresas, para plantio em eventos comemorativos, como o Dia da Árvore.

O atual presidente da Apremavi é Edegolg Schäffer, irmão de Wigold. Segundo ele, o grande diferencial da Apremavi é o trabalho com mudas aclimatadas, de sementes coletadas localmente, complementado com assistência técnica e capacitação dos produtores rurais. Todos os projetos têm uma etapa de sensibilização e orientação técnica para o sitiante aprender a lidar com as nativas desde o plantio até a efetiva formação das árvores. Um dos resultados mais visíveis é a alta taxa de sobrevivência das matas plantadas e o vigor das árvores em formação.

“A Mata Atlântica é biodiversa, tem muita coisa para fazer e para descobrir. Você entra na mata e descobre frutas como o baguaçu, essa é a nossa verdadeira riqueza”, prossegue Miriam. “Eu tenho uma pequena teoria: plantar árvores é um vício. Eu consigo ver este mesmo sentimento nas pessoas que já plantaram árvores conosco e sei que elas vão continuar plantando. É um fascínio, é muito bonito plantar e ver crescer. Você quer, inclusive, visitar periodicamente e ver como sua árvore está. É uma atividade que cativa quem já fez”.

Completamente “viciada” em plantar florestas, Miriam gosta de estender a atividade ambientalista às datas familiares, nos chamados “bosques comemorativos”. “Plantamos um bosque quando nasceu nossa primeira filha, Carolina, e outro quando Gabriela, nossa segunda filha, fez um ano”, revela. Carolina agora tem 21 anos e Gabriela, 19, mas ambas parecem pequenas diante das árvores plantadas em sua homenagem.

Outro bosque comemorativo ainda cresce ali por perto, esse bem mais jovem. Foi um presente dos amigos e parentes convidados para as bodas de prata do casal. Em lugar dos tradicionais excessos de comes e bebes, a opção foi festejar de enxada na mão, num claro sinal de que ali estavam reunidas pessoas dedicadas a investir num futuro mais verde.

Um pouco mais adiante, no mesmo morro, encontramos uma área com árvores maiores e uma placa escrita em português e alemão, identificando um dos vários Bosques Heidelberg em Atalanta. Conforme explica a ambientalista, em 1999 ela viajou para a Alemanha a convite da ONG Bund – Freunde der Erde (Amigos da Terra) da cidade de Heidelberg. Lá, fez palestras em escolas municipais sobre o trabalho da Apremavi. As crianças e os adolescentes quiseram colaborar com dinheiro do próprio bolso e assim surgiu um novo canal de financiamento ao plantio de florestas, num pedacinho de Brasil onde ainda predominam os cabelos loiros e os olhos claros dos descendentes de imigrantes alemães.

O dinheiro dos estudantes não é nenhuma fortuna e por isso mesmo prova que recompor matas nativas não é tão caro assim. Quando se une trabalho sério e gente dedicada, os recursos funcionam como sementes e as ações se multiplicam.

Mesmo em poucos anos, as árvores já tornam a paisagem catarinense mais verde


Miriam ajudou a plantar as primeiras árvores da Apremavi e continua plantando onde quer que esteja


Além das doações da garotada de Heidelberg, a ONG de Miriam conta com recursos de um proprietário de terras – Ângelo Sarda – que também mora na Alemanha, em Darmstaed. Ele foi para lá há uns 16 anos para estudar Engenharia Mecânica e acabou ficando. Casou-se com uma alemã e não pretende voltar tão cedo. Mas quer contribuir para recompor as paisagens de infância: já comprou vários pedaços de terra ali na região e cuida de reflorestar com nativas, em parceria com a Apremavi e sob a supervisão de sua mãe, Marily Hoffmann Sarda, que vive no Rio Grande do Sul.

Miriam também esteve na linha de frente de algumas batalhas para salvar espécies de plantas criticamente ameaçadas, algo raro mesmo entre ambientalistas, cujas bandeiras de luta costumam ser escolhidas entre os animais em risco. Graças a ela e seus companheiros, ainda existe uma bromélia chamada Dyckia distachya. As últimas áreas naturais de distribuição dessa planta ficaram sob as águas da usina hidrelétrica de Barra Grande, no rio Pelotas, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas a bromélia ainda é cultivada na Apremavi. Na sede da ONG, inclusive, existe um canteiro com algumas Dyckia desta espécie. Quem passa por ali distraído nem percebe, mas aquelas são plantas sobreviventes, com uma valiosa história de resgate e uma chance de fazer frente à extinção por meio da reintrodução na natureza.

Pedagoga de formação, Miriam ainda produziu uma série de livros e cartilhas, através dos quais leva informações importantes, tanto para os agricultores interessados em tornar suas propriedades sustentáveis como para autoridades do primeiro escalão de governo. Em todos os textos é possível identificar os efeitos do tal “vício” em plantar florestas e promover a restauração dos ecossistemas e biomas brasileiros. Em especial quando o foco é a Mata Atlântica ou a Mata Mista de Araucária, as duas fisionomias vegetais do coração.

Em Brasília, essa ambientalista de 47 anos atualmente participa da coordenação dos Diálogos Florestais, uma iniciativa inédita e independente de interação entre representantes de empresas florestais, organizações ambientalistas e movimentos sociais, com o objetivo de promover ações associadas à produção florestal e ampliar os esforços de conservação e restauração ambiental.

A julgar pela trajetória de Miriam Prochnow como plantadora, os tais Diálogos correm o risco de ampliar os jardins florestais do Planalto Catarinense pelo Brasil afora! Com direito a cercar e proteger muitas cachoeiras como aquelas duas do rio Dona Luiza.


Fonte: National Geografic Brasil

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