terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Série Plantadores de Florestas - Cap. V - O restaurador de áreas degradadas

Renato Moraes de Jesus já coordenou o plantio de 92 milhões de mudas e quer chegar à marca dos 100 milhões com o reflorestamento de 100 mil hectares de Mata Atlântica



Renato de Jesus: “antes de plantar precisamos controlar as espécies invasoras e a erosão”


Minas exploradas, encostas de solo nu, zonas industriais, frentes de erosão, áreas de mata ciliar, velhas pastagens improdutivas: onde a maioria de nós enxerga apenas uma paisagem degradada, Renato Moraes de Jesus visualiza possibilidades. E implanta mudanças radicais, com paciência, persistência, juntamente com equipes capacitadas e tecnologias adaptadas caso a caso.

“Plantar é fácil. O negócio é cuidar: as mudas de árvores nativas têm mais necessidades do que um recém-nascido! Na verdade, são até mais difíceis, pois o recém-nascido chora quando precisa de alguma coisa e a floresta recém-plantada, não”, resume o engenheiro florestal formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) com doutorado em Ecologia Florestal pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

As próprias árvores fazem seu arrimo de raízes, no reflorestamento do Convento da Penha, em Vitória (ES)

Os frutos das palmeiras atraem animais que “semeiam” novas árvores e adensam o plantio


Aos 60 anos, Renato fala com propriedade, do alto de um currículo de 33 anos de restaurações ecossistêmicas nas áreas de mineração da Vale e em projetos feitos por meio de parcerias ou convênios com a mineradora, incluindo a recuperação do entorno de portos, zonas industriais e margens de ferrovias e rodovias. E à longa experiência na Vale ainda é preciso acrescentar os últimos dois anos como diretor técnico operacional da Symbiosis Investimentos e Participações Ltda. Isso, sem contar os experimentos realizados nas horas vagas, no próprio sítio, em Domingos Martins, Espírito Santo.

Por alto, Renato de Jesus já coordenou o plantio de 92 milhões de mudas de árvores nativas! E ainda quer chegar aos 100 milhões antes de se aposentar. Ele deve alcançar a impressionante marca ao terminar o projeto que agora está em cima de sua mesa, de recomposição de 100 mil hectares de Mata Atlântica no Sul da Bahia, com espécies de potencial silvicultural (floresta de produção). Depois, pretende ficar só com o sítio onde mora, a 50 quilômetros de Vitória. O plano é tocar uma pousada por lá, dividindo a atenção apenas entre os convidados, a contemplação de palmeiras vermelhas – suas favoritas, plantadas em frente à janela do escritório – e um mergulhinho ao pé da cachoeira.

A inspiração para uma vida dedicada ao plantio de matas veio dos tempos de garoto. Renato era vidrado em seriados e filmes sobre a polícia montada do Canadá. Queria ser como aqueles homens de chapéu e botas altas, vivendo numa casinha de madeira e tomando conta da floresta. A casinha de madeira ele arrumou na Reserva Natural Vale, em Linhares, um raro remanescente de Mata Atlântica de baixada (ou de tabuleiro) com 21.787 hectares. Ali podem ser encontradas 4 mil espécies botânicas, uma centena de espécies de mamíferos e cerca de 380 espécies de aves, incluindo o ameaçadíssimo mutum-do-sudeste, o qual tive o prazer de avistar diversas vezes, antes do amanhecer, durante uma reportagem.

Ao assumir a gestão de Linhares, no mesmo ano em que foi contratado pela Vale (1977), Renato foi morar na reserva. Logo montou um viveiro de árvores nativas, hoje com capacidade de produzir até 3 milhões de mudas de 600 espécies, por ano. Inicialmente, as mudas foram usadas para recomposição e enriquecimento da floresta da própria reserva. Depois, para experimentos práticos de manejo florestal e para os plantios em áreas administradas pela Vale, como o entorno do Porto de Tubarão, em Vitória. E também para a restauração de outros projetos apoiados ou executados pela mineradora, como a restauração da floresta no morro do Convento da Penha, uma das principais atrações turísticas da capital capixaba.

“O plantio na Penha tem 22 anos. Antes de plantar precisamos controlar as espécies invasoras e preparar a recomposição da floresta nativa. São 50 hectares de pirambeiras e, em diversos pontos, precisamos construir muros de arrimo, para evitar deslizamentos. Muita coisa também havia sido plantada sem critério, ornamentais de outras regiões, espécies exóticas. Havia muitas plantas invasoras e as árvores nativas que ainda resistiam estavam cobertas por cipós”, conta o engenheiro florestal. “Ainda hoje vemos intervenções inadequadas, mas as árvores que plantamos cresceram e a mata fechou. Foram 200 espécies diferentes, todas da região”.


Após quatro décadas plantando, o plano de Renato de Jesus é descansar à sombra das matas recuperadas


Boa parte do conhecimento acumulado por Renato sobre a recomposição de florestas tropicais veio da necessidade de replantar a vegetação original em áreas mineradas, após o período de exploração. “O Brasil já fez muito mais do que outros países, em restauração florestal. Mesmo empresas multinacionais já fizeram mais aqui do que em suas áreas de mineração lá de fora. Mas ainda é muito menos do que deveria ser feito”, observa o especialista.

A tal recomposição da vegetação original é obrigatória no Brasil, como em muitos países. Mas quanto efetivamente cresce do total de árvores plantadas é algo fora do alcance de qualquer lei ou decreto. Esse tipo de plantio é complicado porque antes é preciso conter a erosão e refazer o solo, de forma a garantir ar, água e os nutrientes necessários às raízes das plantas.

Em seguida vem uma fase crítica, de crescimento das mudas. Isso implica em assegurar que tenham água suficiente na estação seca; não sejam levadas por enxurradas na estação chuvosa; nem expostas demais ao sol; nem sombreadas demais; nem afogadas por capins invasores ou destruídas em incêndios. Sem contar a necessidade de multiplicar todos esses cuidados por grandes extensões, não raro, em locais de difícil acesso ou com encostas íngremes.

O grande mérito de Renato de Jesus nessa batalha contínua é se nortear por experimentos práticos. Ele sabe o que dá certo em cada região por que testou, não por ouvir falar. E não tem receio de lançar mão das mais variadas tecnologias para facilitar o plantio e aumentar o porcentual de sucesso das futuras árvores, sejam simples ou sofisticadas e mesmo diminuir o custo de implantação. O mero fato de combinar uma plantadeira manual capaz de cavar e já colocar a muda no buraco junto com um gel nutritivo, por exemplo, significa acelerar o plantio em encostas – onde as máquinas não chegam – e multiplicar várias vezes a sobrevivência das matas plantadas.

Parte de seus conhecimentos, Renato de Jesus publicou em artigos e livros, como Recuperação de Áreas Degradadas – Práticas da Vale, escrito em parceria com Samir Gonçalves Rolim e publicado em 2010. Outra parte reuniu em florestas-modelo para fazer demonstrações a produtores rurais, estimulando o reflorestamento em propriedades privadas. Chamado de Florestas-Piloto, este projeto teve início em 2008, e é realizado no âmbito de um convênio da Vale com o Governo do Espírito Santo. Para os produtores que se convencem das vantagens de recuperar suas florestas e querem ir adiante, Renato projetou o programa Extensão Ambiental, no qual a Vale dá assistência técnica para o plantio e ainda fornece as mudas e os insumos. Mesmo com sua saída da Diretoria de Biodiversidade da mineradora, a empresa dá continuidade aos dois programas.

Renato Moraes de Jesus agora prepara o sítio de Domingos Martins (ES) para receber turistas

Sem risco de exagerar, pode-se dizer que o legado de Renato de Jesus à Vale é o conjunto das melhores técnicas de recuperação de áreas mineradas com vegetação nativa, devidamente adequadas às múltiplas faces da nossa geografia. Mas o legado desse plantador de florestas ao Brasil é bem maior, mais vivo e abrange todos os matizes de verde!
Fonte: National Geografic BR

2 comentários:

Maria Luiza disse...

Renato, preparo projeto para fotografar a fauna e flora do Convento. Pode me ligar? 27 999447201. Maria Luiza

Julia disse...

Sou sua Fã Renato!

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Top WordPress Themes