quarta-feira, 27 de março de 2013

Brasil terá seu primeiro modelo climático na ONU


Programa desenvolvido pelo Inpe será o primeiro a ter aval do IPCC na América Latina. Elevação do nível do mar no Rio e previsão de enchentes são algumas das simulações previstas na nova modelagem.




Pela primeira vez, o Brasil vai contribuir com um modelo climático para as previsões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) que reúne estudos do mundo inteiro sobre o assunto. O modelo, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), fará do país o primeiro da América Latina a ter um programa de previsões climáticas reconhecido pelo órgão da ONU.

O Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre - nome oficial que, em inglês, recebe a sigla Besm -OA 2.3 - oferece resultados que são fruto da interação entre oceanos, atmosfera, biosfera e criosfera. Trata-se de um acompanhamento dos ciclos dos gases e das mudanças que eles podem sofrer. É possível estimar a variação da concentração de gases de efeito estufa para as próximas décadas, explica o climatologista Paulo Nobre, do Inpe:

- É uma simulação que nos mostrará o que virá pela frente. Dados de Desmatamento, por exemplo, serão utilizados no modelo, porque as mudanças causadas não são apenas instantâneas. Se a quantidade de carbono na atmosfera aumenta, a vegetação é afetada, e todo o bioma também. A partir desse modelo, poderemos estimar consequências para biomas específicos, como os Pampas, a Mata Atlântica, o Cerrado.

Uma equipe de cientistas trabalha em conjunto para começar a rodar no novo programa dados regionais específicos. Leva tempo até que as variáveis associadas sejam incluídas, mas, logo que isso for feito, será possível estimar, por exemplo, qual será a elevação do nível do mar na costa do Rio de Janeiro ou em que locais estão previstas chuvas mais concentradas, que têm gerado tragédias na Região Serrana.

Ou seja, trata-se de uma tentativa de representar a realidade futura para que haja tempo hábil de planejar adaptações, remoções de locais de risco ou planos de contingência.

Embora alguns especialistas ressaltem que o programa não tem ainda o mesmo grau de sofisticação dos modelos produzidos no Hemisfério Norte, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, o projeto brasileiro trará informações detalhadas sobre fenômenos tropicais importantes, que hoje são ponto fraco de modelos internacionais.

Fenômeno El Niño Além de ser bom para o país, esse olhar sobre as florestas tropicais é importante para o mundo inteiro, já que uma mudança na Amazônia terá consequências não apenas locais, mas também globais. Os gases de efeito estufa são lançados na atmosfera e lá permanecem por até 40 anos.

O artigo dos pesquisadores sobre o lançamento do modelo acaba de ser aprovado para publicação na "Journal of Climate", uma revista científica da Sociedade Americana de Meteorologia. Após a divulgação, ele será enviado para o IPCC. Entre as previsões que já podem ser apontadas pelo modelo, está o aumento de ocorrência do fenômeno El Niño, devido ao Desmatamento da Amazônia.

- Ele irá aumentar, se o Desmatamento continuar. Em uma das simulações que fizemos, removemos toda a Floresta Amazônica.

Nesse caso, haveria chuvas localizadas com o El Niño, mas em um panorama geral, haveria redução de 20% das chuvas - disse Nobre.

O modelo brasileiro está em desenvolvimento desde 2008 por uma força-tarefa de cientistas ligados ao Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, à Rede Clima do governo federal e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas.

O trabalho no IPCC é compilar e analisar as informações obtidas pelos diferentes modelos de previsão.


Fonte: O Globo

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